Foto: Breno Lobato 1g2r6n
Visitantes conheceram a Bioanálise de Solo (BioAS) e os sistemas integrados
Um grupo de 25 de gestores públicos, formuladores de políticas, especialistas e representantes do setor produtivo de diversos estados brasileiros e países latino-americanos e da Tailândia, liderado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), conheceu, na Embrapa Cerrados (DF), as contribuições da Bioanálise de Solo (BioAS) e dos sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) para a sustentabilidade da agricultura brasileira.
A visita técnica, na manhã do dia 5 de junho, fez parte da programação do seminário “Políticas de Agricultura de Baixo Carbono (ABC): Um Caminho para a Resiliência Sustentável no Brasil”, promovido pelo BID em coordenação com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e o Department for Environment, Food & Rural Affairs (DEFRA) do Reino Unido. O encontro foi realizado em Brasília nos dias 4 e 5 de junho e teve como objetivo contribuir para o fortalecimento e a cooperação entre entes federativos e parceiros internacionais na promoção de tecnologias de baixo carbono na agricultura brasileira por meio da troca de experiências e lições aprendidas na implementação do Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (ABC+) e do debate sobre os principais desafios para conciliar produtividade, conservação ambiental e inclusão social. O seminário integra a agenda da “Trilha da COP 30”, série de eventos preparatórios para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30), que será realizada em novembro no Brasil.
Os visitantes foram recebidos pelo chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Unidade, Eduardo Alano, que fez a apresentação institucional, destacando a equipe, a estrutura e as principais linhas de pesquisa em manejo e conservação dos recursos naturais, sistemas de produção vegetal e sistemas de produção animal desenvolvidas ao longo dos 50 anos de história do centro.
Saúde do solo e a BioAS 6a265e
A pesquisadora Ieda Mendes fez uma palestra sobre a Bioanálise de Solo (BioAS), tecnologia para mensurar a saúde do solo.
Ela lembrou que o solo é um superorganismo vivo e representa a melhor biofábrica existente, e que solos saudáveis, além de produzirem mais que solos doentes, são mais resilientes.
Também apresentou dados de experimentos em fazendas que demonstram como a produtividade está relacionada à biologia do solo.
Nesse sentido, a atividade enzimática, segundo Mendes, é um marcador de saúde do solo de alta sensibilidade.
“A enzima vê, na matéria orgânica do solo, muito mais rapidamente o que está acontecendo nesse solo”, disse, acrescentando que os níveis de atividade das enzimas arilsulfatase e beta-glicosidase, relacionadas à ciclagem de nutrientes e utilizadas pela BioAS, estão correlacionados aos demais parâmetros de saúde do solo e ao rendimento de grãos, o que torna a análise biológica mais simples e barata.
A coleta das amostras para a BioAS é feita na camada de 0 a 10 cm do solo e segue os moldes da amostragem para a análise de solo convencional.
A calibragem da tecnologia, com a definição dos níveis críticos das enzimas, foi feita em experimentos de longa duração, que ao gerarem gradientes de matéria orgânica do solo e de rendimento de grãos, permitiram o uso dos mesmos princípios da calibração dos nutrientes no solo.
Além disso, os algoritmos de interpretação desenvolvidos pela pesquisa permitem, atualmente, determinar os níveis críticos das enzimas em função dos níveis de argila do solo.
A partir da BioAS, a análise de solo sai do conceito mineralista, baseado na química do solo, para uma abordagem que combina as funções armazenamento, ciclagem e suprimento de nutrientes.
Com base na interpretação da atividade enzimática na matéria orgânica do solo, é possível determinar os níveis de saúde do solo – saudável, adoecendo, doente e em recuperação – exemplificados com laudos de solos de fazendas mostrados pela pesquisadora.
Segundo Mendes, os problemas de saúde do solo são corrigidos com mudanças nas práticas de manejo, adotando-se a diversificação das espécies com a rotação de culturas, o mínimo revolvimento do solo, uso de plantas de cobertura do solo, a produção de palhada, além da integração de animais e arvores aos sistemas de cultivo.
Ela explicou que a tecnologia já é utilizada por 33 laboratórios comerciais credenciados que formam Rede Embrapa BioAS e estão conectados pela plataforma on-line Módulo de Interpretação de Qualidade do Solo (MIQS).
Os laboratórios enviam os dados das amostras à plataforma, que gera os laudos com a interpretação da saúde do solo.
No momento, a tecnologia está calibrada para cultivos anuais no Cerrado e no Paraná, mas dados de áreas com cana, café, pastagens e outros cultivos também podem ser submetidos à plataforma.
O banco de dados do MIQS já conta com informações mais de 55 mil amostras, inclusive de outras regiões, possibilitando a geração de mapas de saúde do solo em níveis de município, estado e nacional.
A pesquisadora informou que está em construção a plataforma Saúde do Solo BR Online, que vai disponibilizar mapas e informações sobre a saúde do solo em diversas culturas e tipos de solo por município e estado, nas funções suprimento, armazenamento e ciclagem de nutrientes.
“Os mapas e gráficos poderão servir como e para a tomada de decisão em políticas públicas”, projetou.
Sistemas integrados 6xa1z
Na vitrine de ILPF da Unidade, o pesquisador Roberto Guimarães Jr. explicou que os sistemas integrados reúnem as atividades agrícola, pecuária e florestal na mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotação, permitindo, no mesmo ano agrícola, uma safra de soja, seguida por uma de milho consorciado com capim, a produção de carne ou leite, a produção de palhada e, possivelmente, o componente florestal como quinta safra.
“A palavra-chave é diversificação”, disse, informando que as estimativas atuais apontam mais de 17 milhões ha de áreas com alguma modalidade de sistema integrado, com crescimento de mais de 50% nos últimos 10 anos.
Os sistemas integrados seguem três princípios: mínimo revolvimento do solo, permanente cobertura do solo e diversificação de espécies, sendo que o produtor é o ponto de partida do processo de inovação. Guimarães citou adaptações de equipamentos para produtores de pequeno porte, como caixas semeadoras acopladas a motocicletas e tratores, viabilizando a integração de cultivos.
Entre as diversas possibilidades de sistemas integrados, o pesquisador apontou o Sistema São Francisco, que permite o consórcio de pasto com soja a partir de diversas formas de semeadura; o Sistema Antecipasto, que permite o mesmo consórcio com o uso de máquina apropriada; e o Sistema Antecipe, que antecipa em 20 dias ou mais o cultivo do milho, possibilitando o plantio do milho no ciclo final da soja, aumentando a produtividade do milho safrinha e reduzindo riscos para o produtor, sendo também possível o plantio do pasto junto com o milho.
Guimarães apresentou dados de pesquisa demonstrando o potencial de produção de carne com a implantação de pastagem em áreas de lavoura em sistema de rotação, o que garante a reposição de nutrientes no solo sem aporte adicional de fertilizantes, além da manutenção das produtividades.
Outros benefícios dos sistemas integrados comentados pelo pesquisador e ilustrados por dados de pesquisas são o maior conforto animal proporcionado pela sombra das árvores, que permite, em zebuínos leiteiros, maior produção de ovócitos, embriões e leite, além de menor consumo de água; maior ciclagem de nutrientes no solo e maior liberação de nutrientes pela palhada; maior estoque de carbono no solo e em maior profundidade; aumento na eficiência do uso de fertilizantes; maiores teores de água e matéria orgânica no solo; incremento na produtividade de grãos como a soja; balanço de carbono mais favorável no sistema completo (ILPF) em comparação com o de áreas de pastagens de baixa produtividade e de ILP, podendo-se mitigar todos os gases de efeito estufa utilizando a ILPF em apenas 15% da área da fazenda.
“A partir dessas premissas, temos condições, hoje, de demostrar, com base em ciência e dados de pesquisa, que produzimos produtos mais sustentáveis. Precisamos mostrar isso à sociedade”, finalizou, citando os programas de certificação Carne Baixo Carbono, Soja Baixo Carbono, Leite Baixo Carbono e Carne Carbono Neutro. Também participaram da apresentação os pesquisadores Júlio César dos Reis e Karina Pulrolnik, que responderam às dúvidas dos visitantes.
Apoio ao desenvolvimento tecnológico 4f6c4b
Os conteúdos apresentados foram bastante elogiados pelos visitantes. Pedro Martel, chefe da Divisão de Agricultura e Desenvolvimento Rural do BID, afirmou que um dos segmentos mais importantes da agenda de trabalho do Banco na América Latina é fomentar o desenvolvimento da agricultura sustentável, compreendendo o que está sendo gerado pela ciência e buscando maneiras de massificar e levar a tecnologia para outros locais.
“O BID pode colaborar nisso, mas trazendo pessoas de outras partes, dos estados e municípios e de outros países. É muito importante para nós que elas conheçam a fronteira do conhecimento em agricultura sustentável. Muita gente fala desse tema e em todos os lugares se encontra informação a respeito, mas ninguém diz como realmente se deve fazer. E a Embrapa é líder nisso. Por isso viemos aqui, para conhecer, em primeira mão, dos pesquisadores que estão gerando dados rigorosos que permitem informar as decisões”, disse.
Martel lembrou que um dos componentes importantes da agenda de desenvolvimento da agricultura sustentável do Banco na região é financiar bens públicos e, nesse sentido, um dos bens públicos mais importantes a serem financiados é o desenvolvimento e a inovação tecnológica.
“Há países que pedem que apoiemos o instituto de pesquisa do país, e nós trabalhamos com esse país e com esse instituto. E há países que pedem apoio para financiar e cobrir os custos iniciais para os produtores introduzirem novas tecnologias, e nós financiamos isso. É parte do mesmo conceito de geração, desenvolvimento tecnológico e adoção”, explicou.
O executivo vê potencial de expansão dos sistemas integrados na América Latina. “Já há mais conhecimento sobre eles e há potencial.
Como foi mostrado aqui, o próprio Brasil já os utiliza em mais de 17 milhões ha.
E há na região toda uma agenda, tanto nossa como dos países, de fomentar isso”. Sobre a BioAS, ele aguarda o sucesso futuro da tecnologia, lançada há apenas cinco anos.
“Teríamos que entendê-la melhor, mas o êxito, pelo que a dra. Ieda (Mendes) disse, é que as pessoas começam a utilizar a informação para tomar decisões de baixar o custo de produção e aumentar a produtividade. Se conseguirmos fazer essa conexão entre a informação que se gera e a interpretação por parte do produtor, creio que o potencial da BioAS é gigante”, destacou.
Breno Lobato (MTb 9417/MG)
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